Nosso querido professor e coordenador Kássius Kennedy escreveu este texto que saiu no Jornal Correio, edição de hoje, dia 10/12, sobre um documentário que fala do nosso querido Ayrton Senna. Vale a pena conferir.
Após 16 anos de sua morte, Ayrton Senna teve parte de sua história contada no cinema. Quando eu soube que o filme estava sendo produzido, criei uma boa expectativa e aguardei a estréia com uma única ressalva: de ser uma produção estrangeira contando a história de um ídolo nacional.
Lembrei-me de quando estava na 8ª série e a professora de geografia exibiu o filme Amazônia em Chamas em que o falecido ator Raul Júlia interpretava o seringueiro e líder político Chico Mendes. Lançado no dia 12 de novembro, Senna - obra do diretor Asif Kapadia - conta a impressionante trajetória do tricampeão de Fórmula 1 Ayrton Senna.
Gostaria de continuar dizendo que minhas expectativas foram atendidas. Senti falta de poucas coisas, como a relação de Senna com alguns personagens e achei demais as cenas de miséria que o diretor escolhe para mostrar o Brasil (isso pode ser pelo fato de ser um diretor estrangeiro – sua lente irá selecionar a impressão que talvez tenha do país e/ou colaboram com natureza altruísta de Senna destacada no filme).
Para falar a verdade, a minha frustração foi pelo fato do filme já não estar mais em cartaz duas semanas após a estréia no único cinema de Uberlândia. Frustração sem motivo talvez, afinal não produzi o filme, não sou familiar do Ayrton e não ganho nada da bilheteria, mas eu gostaria que outras pessoas fossem as telonas prestigiar Senna. É verdade que o cinema é um produto e precisa ser vendido e pensando bem agora, não tem por que os cinemas manterem um filme em exibição se não há público. O melhor mesmo é manter Harry Porter e Crepúsculo que agradam o telespectador moderninho e rende milhões de bilheteria. Mas isso é assunto para uma outra ocasião.
O filme emociona também com a imagem mundialmente conhecida quando o piloto está no cockpit antes da corrida que encerraria sua vida, quando na ocasião Ayrton parecia já saber de sua morte. A construção do diretor apresenta Senna como alguém providencial, inclusive pelas diversas vezes em que cenas mostram as referências que o piloto fazia sobre sua relação com Deus. Em vários depoimentos isso é perceptível, inclusive quando a irmã do piloto relata que Senna receberia um presente de Deus na noite anterior ao acidente.
A vida de Senna por si só já é um roteiro completo. Em seu período com piloto de F1 ele teve seus rivais (reduzidos a figura de Alain Prost no filme – é bem provável que você sinta falta de Nelson Piquet e de Nigel Mansell que tem mínimas aparições), tem um grande vilão (Jean-Marie Balestre e a grande polêmica do campeonato de 1989) e seu romance (não havia cena melhor do que a de Senna visitando o programa Xou da Xuxa e o claro affair que estava por vir).
Não sou um fã incontrolável por Ayrton Senna, mas compartilho do sentimento de que depois dele a F1 perdeu a graça. Assistir a obra de Kapadia é entender porque numa eleição com mais de 200 pilotos, Senna é considerado o melhor de todos os tempos.