sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Quando o Facebook mata


Deu na Rádio Holanda: começou o julgamento do que a mídia holandesa chama de "Assassinato do Facebook".

Resumo da história: uma adolescente de 16 anos, Polly, tramou com seu namorado, pouco mais velho, a morte de Joyce, 15 anos, a melhor amiga de Polly. A trama envolveu a contratação de um terceiro adolescente, Jinhua, de 15 anos, para eliminar a amiga-transformada-em-desafeta, em troca de um pagamento de € 100 (R$ 253).

Em janeiro, Joyce foi esfaqueda em sua casa até a morte.

Onde é que entra o Facebook nessa história? Simples: o "crime" de Joyce, a vítima, foi ter espalhado na rede social que sua amiga Polly tinha uma vida sexual bastante ativa. O Facebook também teria sido intensamente usado para contatos com o que viria a ser o executor da vingança.

Imagino que você aí é bem capaz de dizer que situações e desfechos como esse ocorriam antes da invenção do Facebook e até da internet (e até do telefone, para ser ainda mais detalhista).

OK, concordo. Mas não dá para negar que as redes sociais deram à disseminação de rumores (ou fatos) uma velocidade e um alcance inacreditáveis.

O que me surpreende, tanto quanto o absurdo de um crime como esse, é que não aconteçam casos similares (ou piores) no Brasil.

Qualquer um que tenha passado os olhos seja no Facebook como nos comentários à colunas como esta dar-se-á conta imediatamente da quantidade industrial de fofocas, preconceitos, infâmias, acusações sem a menor prova e coisas do gênero que infestam as redes sociais. Sobra pouco espaço para uma conversa inteligente e útil.

Não sei se acontece a mesma coisa em outros países porque não tenho tempo para fazer esse tipo de avaliação. Mas, aqui, a coisa é feia, muito feia.

Dá a nítida sensação de que o anonimato a que podem recorrer usuários da internet provocou um "liberou geral" de recalques, invejas e demais sentimentos baixos que a alma humana abriga.

Antes que algum leitor tarado pense que sou um dinossauro contrário à Internet ou às redes sociais, aviso que fui dos primeiros a utilizar a rede, antes mesmo que ela estivesse instalada no Brasil. Foi no meu período (infelizmente curto) como correspondente em Madri, faz exatos 20 anos.

A internet e seus filhotes são instrumentos maravilhosos de informação e de comunicação. Permitem a formação de um delicioso botequim virtual para bate-papo. Mas, como ocorre com boa parte das invenções humanas, seu uso pode ser para o bem ou para o mal, como aconteceu com os adolescentes holandeses. Paciência.

Minha defesa é nem ler os comentários que saem ao pé da coluna. Grande parte deles contém xingamentos, em vez de argumentos. Fica, pois, o aviso: quem quer que eu comente seu comentário, que o envie por e-mail, com argumentos e boa educação. Do contrário, vai para o lixo.

Pena que a sino-holandesa Polly tenha preferido matar a amiga, em vez de lhe dedicar o merecido desprezo.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Sem desculpas: a música como forma de protesto




As três integrantes do grupo de punk rock Pussy Riot, condenadas a dois anos de prisão por interpretar uma canção que criticava o presidente russo Vladimir Putin, afirmaram que não pretendem pedir perdão a ele. A polêmica surgiu em março desse ano, quando as moças cantaram uma “oração punk” no altar da catedral de Cristo Salvador em Moscou, pedindo para que a Virgem Maria “livrasse” a Rússia de Putin.

Nadezhda Tolokonni-kova, de 22 anos, Yekaterina Samutsevich, 30, e Maria Alyokhina, 24, acabaram presas, processadas e culpadas das acusações de vandalismo por ódio religioso. A apresentação foi motivada depois que o patriarca ortodoxo russo Kirill pediu voto para Putin às vésperas das eleições presidenciais de março, deixando não só o grupo indignado como também a oposição.

A sentença foi considerada desproporcional na própria Rússia onde grande parte da população criticou a condenação. O fato tomou proporções mundiais devido às diversas manifestações em apoio às integrantes do Pussy Riot: um fã chegou a costurar a própria boca em protesto, o site do tribunal que as condenou foi atacado por hackers. O apoio mais alardeado pela mídia foi o de Madonna, que criticou a decisão publicamente e apareceu em um show com o nome da banda escrito nas costas.

Não é de hoje que a música é utilizada para criticar a situação de um país, sua política e condições sociais. No Brasil, muitos cantores foram exilados na época da ditadura militar e outros tantos presos e acusados por trazerem ideias contrárias ao sistema político vigente em suas canções. Preferências políticas a parte, o que importa não é o teor da crítica, e sim a liberdade para criticar, acima de tudo.