Não tenho estatísticas em mãos e nem
sei se existe alguma coisa a respeito das mulheres na faixa dos 40 ao 50, sobre o seu estado civil. Mas
se eu for pensar nas minha amigas que estão por aí, posso afirmar que a grande
maioria está separada. E com filhos. E achando que nunca mais vão conseguir
outro homem. E se acham horrorosas.
Como eu sou de uma faixa um pouquinho
acima, vou meter meu bedelho (que palavrinha mais feia) entre as quarentonas
(pra começar, elas odeiam a palavra quarentona, saudosas dos trintinha. E temem
o inevitável: cinqüentona. Sexagenária elas não ousam nem pensar. Lembra
aquelas tias que elas achavam carcomidas pelo tempo e pela memória).
Incrível, mas ela tem 40 |
Eu dizia que elas se acham acabadas.
Porque elas não se consideram achadas? A mulher de quarenta tem várias
vantagens. A primeira é que já tiveram os filhos que tinham que ter e a gente
não precisa se preocupar com a possibilidade de elas quererem mais um (aliás,
conheço uma quarentinha – olha que simpático – que já é avó), justamente com a
gente que não estamos mais a fim de trocar fralda, ir na reunião de pais e
filhos e vigiar a maconha na adolescência. Esta parte elas já resolveram.
Outra vantagem é que elas sabem que
Cinema Novo não é aquele cineminha que inauguraram outro dia no shopping.
Cantam as músicas dos Beatles com a gente e também não sabem muito bem quem são
Oásis. Lembram até da copa de 70, no México e algumas delas chegaram a ver o Pelé
jogar. Sabem até a medida da Marta Rocha.
Sexualmente sabem tudo. E como.
Tiveram mais homens que possa imaginar nossa filosofia. Aquele negócio de ter
orgasmo assim ou assado (assado é péssimo) elas já resolveram há mais de uma
década. E já viveram o suficiente para se darem ao luxo de filosofarem sobre a
vida, sem aquelas bobagens que as meninas de vinte pensam e dizem e, ás vezes,
até escrevem em diário.
Conseguem aprender a mexer no
computador com muito mais eficiência que as mulheres de 60 (com todo o
respeito, minha senhora). E não perdem parte do dia atrás da alma gêmea na
internet, como fazem a turma de 20 e de mais de 50.
Parece 30 ou menos. |
Neste momento, por exemplo, o
computador acaba de me avisar que chegou uma mensagem nova. Fui olhar e era
mais uma daquelas perguntando se eu quero aumentar o tamanho do meu pênis. Tem
até a foto de um aparelho que “infla”. Você já pensou, na hora de fazer sexo,
você abrir o guarda-roupa, tirar aquela geringonça (a máquina, não a sua) e
dizer: um momentinho que você vai ver o que é bom pra tosse? Não, as mulheres
de 40 há muito tempo deixaram de se preocupar com o tamanho da geringonça. Com
elas é “menas” preliminar e mais ação. A mulher de 40 vai direto ao assunto.
Eles já perceberam que podem comer e não apenas dar. As mulheres de 40 comem
como gente grande, comem como homem. E a gente dá, com prazer.
A mulher de 40 já tomou aqueles porres
memoráveis de quando tinha trintinha. Ela sabe beber. E ainda puxa um sem ficar
rindo feito uma principiante de 20 e sem a culpa da turma de 50. Dois tapinhas
e vai para o cinema. Relaxadona, dona.
Ah, a mulher de 40 no verão chega ao
seu esplendor debaixo do sol. Sabe a medida certa da sua cor e do seu suor. Sai
da água como se saísse de um aquário, como se desfilasse em cima da água. Não
acampa mais, nem fica em pousada sem internet. A mulher de 40 sabe onde quer
ficar. Gosta de um confortinho.
Ela se pinta pouco, ao contrário das
de vinte e das de 50 e 60. No máximo um batom básico. Não se enchem de perfumes
e pode pintar o cabelo até de vermelho que lhe cai bem. Não fica ridículo com
as de 20 ou 50. Enfim, a mulher de 40 sabe tudo e não está nem aí.
Por que então você sofre, mulher? O
mundo não está perdido, está achado. Você é o melhor papo da praça. Você é o
que há.
Mário Prata. Revista Época. http://www.marioprataonline.com.br/obra/cronicas/frame_cronicas.htm
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